terça-feira, 5 de abril de 2011

GOLPE DE 64


Alguns historiadores escrevem como “Revolução de 64”, mas o que ocorreu foi um golpe militar no Brasil em 31 de março daquele ano. Por que Golpe e não Revolução? - Revolução é quando há uma insatisfação popular e com idealismo e legitimidade do povo, derruba-se um governo instalando uma nova estrutura política e jurídica de Estado, é como se derrubasse toda a casa para construir uma nova com novo estilo. No Golpe, apenas se destitui quem está no governo, tomando o poder pela força e dentro da mesma estrutura jurídica de Estado, se impõe para governar segundo os interesses dos golpistas. É como se ocupasse a casa do outro, mantendo o mesmo estilo e formato, apenas fazendo reformas. Documentos descobertos pelo historiador Carlos Fico, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), num arquivo de Washington, revelam que os Estados Unidos planejaram intervir no Brasil e ofereceram ajuda militar às forças que faziam oposição ao presidente brasileiro João Goulart. O documento de sete páginas, intitulado "Um plano de contingência para o Brasil" foi elaborado com ajuda de Lincoln Gordon - na época, embaixador americano no Brasil e enviado para o conselheiro de Segurança Nacional da Presidência dos Estados Unidos. Nele, Lincoln Gordon descreve para a Casa Branca, diferentes possibilidades para a eventual queda do presidente brasileiro, João Goulart e não só isso, descreve a necessidade de ajuda financeira, algo em torno de 30 milhões de dólares, para fortalecer a oposição no parlamento e alguns governos estaduais, fomentar a mídia brasileira criando uma campanha anticomunista em defesa da “Democracia”. Esta ação era patrocinada pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD com sede no Brasil, articulada com setores conservadores da igreja e órgãos institucionais. O contraditório nisso tudo é o patrocínio da “Democracia”, com o objetivo de promover o golpe e implantar uma ditadura militar alinhada com os interesses estadunidenses, com autoritarismo, censura de imprensa, colonizar o país através da cultura, praticar a tortura e caça aos comunistas, que não passavam de nacionalistas. É a primeira vez que se tem um documento que comprova isso, não é delírio daqueles que sofreram com o golpe, é um dado da história. Também no meio da papelada, o professor encontrou um telegrama mandado pelo departamento de Estado americano para o embaixador Lincoln Gordon, no Brasil no dia 31 de março de 1964, exatamente no dia em que estoura o golpe. Nele, o departamento de Estado explica como será o apoio às forças contrárias a Goulart, a chamada “Operação Brother Sam”, com todo material bélico e dinheiro para promover a campanha em favor dos golpistas. As contradições e o jogo de interesses continuam até hoje. Quando os “Democratas” que no passado apoiaram e sustentaram de todas as formas o Golpe, inclusive controlando a mídia e utilizando-a a serviço da manutenção do golpe, saem agora em defesa da liberdade de imprensa, (quando no fundo a preocupação é com liberdade dos donos da imprensa de negociar o que deve e não deve ser dito), quando o governo abre este debate para a sociedade sobre o marco regulatório da mídia e/ou controle social das comunicações, tema este existente em qualquer país verdadeiramente democrático, para a sociedade saber como ocorre às concessões de canais de televisão, rádio, banda larga etc. para que sejam de forma transparente, regulamentar horários de programação, publicidade, programas recomendáveis, democratizar o acesso da informação, manter o compromisso com os princípios fundamentais do Estado brasileiro, de defesa da vida, das liberdades de expressão, religiosa e política, da cultura, do combate aos preconceitos, e não deixar somente para o mercado e os interesses dos donos da imprensa a tarefa da regulação da mídia para continuarem ditando o que devemos consumir, a reação é imediata. A sociedade não pode mais ficar refém dos que detém o monopólio da informação, dos que impõe sua ideologia, ditam o que devemos ou não consumir, como devemos nos comportar, e quais os padrões culturais que devemos adotar.
Aldo Dolberth

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