quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CONTESTADO - VIVO E PRESENTE

Com o advento da criação da nova Associação dos Municípios da região do Contestado, surge à necessidade de revisar a história deste episódio e da região. A Guerra do Contestado como ficou batizada pelos historiadores, ocorrida entre 1912-1916, teve um só palco, mas contada de várias formas. A começar pela denominação de Contestado, alusão ao conflito jurídico sobre a questão dos limites entre Paraná e Santa Catarina. É oportuno registrar que os caboclos sertanejos que viviam na região denominada de Contestado, não lutaram para defender Santa Catarina contra o estado do Paraná, àquela era uma disputa de Tribunais, cujo fim do litígio foi um acordo de limites em outubro de 1916. A Guerra Sertaneja na região do Contestado, no mesmo período do conflito sobre os limites, era uma mistura de messianismo, combinado com fatores sócio-econômicos e políticos. Na disputa de poderes entre os “coronéis” desta região, não havia Leis, médicos ou padres, os que surgiam, ficavam do lado dos coronéis para combater o “fanatismo”. Os posseiros ficavam com a pior parte: eram expulsos de suas roças. A região do Contestado abrigava desde caboclos a foragidos da Justiça, como também imigrantes europeus chamados por D. Pedro II, em fins do Império, para dar prosperidade à região. Os caboclos foram espremidos pelos dois lados. Ali chegaram perto de dez mil homens (até presidiários) recrutados de vários estados para a construção da ferrovia União da Vitória – Marcelino Ramos, que cortou o Contestado de ponta a ponta. A Brazil Railway recebeu a concessão de 15 quilômetros de cada lado dos trilhos, contratou oitenta cowboys armados, e o processo de expulsão de posseiros, pequenos e até médios proprietários, vingou. Terminada a ferrovia, os turmeiros ferroviários foram simplesmente despedidos, e nem a promessa de retorno às suas cidades foi cumprida (o responsável direto por essa situação foi Percival Farquhar). Imigrantes, caboclos, ex-empregados, proprietários, deserdados, todos acabaram se envolvendo na Guerra Sertaneja da região do Contestado. Curitibanos também foi palco da maior guerra brasileira, tanto é que a cidade foi incendiada no dia 26 de setembro de 1914, por um piquete de sertanejos sob o comando de Agostinho Saraiva, apelidado de “Castelhano”. Mais uma vez os caboclos entraram no jogo da disputa de poderes dos Coronéis Henrique Almeida e Albuquerque. Por outro lado, o intento era queimar o Cartório de Registros, acreditando terminar o direito de propriedade adquirido pelos invasores das terras até então devolutas. Mais do que o fanatismo religioso, o banditismo, a disputa de terras, e as condições de miséria, abandono e ignorância em que viviam os caboclos da região do Contestado, a revolta foi o grito dos miseráveis e oprimidos na tentativa de romper um sistema de exploração, e o sonho de construir uma sociedade diferente, sem ricos e sem pobres, e que todos fossem irmãos. Afinal o lema de José Maria era: “Quem tem moe, que não tem, moe também, e no fim, todos ficam iguais”. Já se passaram quase um século do conflito sertanejo, a fome, a miséria, o conflito agrário, misturados com o progresso econômico e a degradação do meio ambiente, continuam presentes. A revolta dos caboclos no passado foi insuficiente para alertar os mandatários atuais, que uma sociedade mais humana precisa ser construída. A nova associação de municípios herda a histórica dívida social para saldar com os caboclos e remanescentes, com a esperança do desenvolvimento sustentável e distribuição de renda, para evitar o extremo que ocorreu no século passado.

Aldo Dolberth

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